Nem sempre estamos prontos para perdoar – Efeito Luz

Nem sempre estamos prontos para perdoar

Não temos que aceitar tudo. Não temos que compreender tudo. Não temos que perdoar tudo nem gostar de tudo nem ficar feliz o tempo todo. Por outro lado, também não precisamos ser grosseiros, vulgares e cruéis em relação a quem não gostamos. Basta nos distanciarmos. Não é preciso responder às ofensas com deboche. Não é preciso alfinetar quem nos alfineta. Não é preciso dar a última palavra sempre. Não é preciso se vingar, pagar na mesma moeda. Basta se afastar, evitar ao máximo qualquer tipo de contato, se permitir dizer a si mesmo e aos outros: “Eu ainda não perdoei” sem se sentir culpado por isso.

Nossa tradição cristã nos convida ou praticamente nos obriga a perdoar todo tipo de atrocidade em troca do perdão de Deus em relação às nossas falhas. Não ignoro a força e a beleza do perdão. Mas perdão bom é perdão sincero, que vem de dentro, gratuitamente, de forma espontânea.

Cada um tem um tempo para processar informações, entender sentimentos, se distanciar de fatos a fim de vê-los com mais clareza e maturidade. Cada um tem o seu tempo para aceitar, compreender, esquecer, seguir em frente. Na nossa sociedade em que ser infeliz é pecado mortal e todo mundo precisa estar bem o tempo todo, guardar uma mágoa, se sentir desanimado e descrente em relação à vida são crimes inafiançáveis.

Creio que guardar mágoa por tudo e ficar mal por pequenos incidentes, supervalorizando problemas e pessoas nocivas não é uma atitude saudável. Devemos sim aprender a relevar, passar por cima, relaxar diante de imprevistos. Mas, por outro lado, alguns fatos marcantes que ocorrem em nossa vida precisam de mais tempo para serem superados e perdoados. É preciso tempo para perdoar os outros e a nós mesmos. Forçar o perdão é a melhor maneira de fracassar no intento de perdoar.

Não temos que aceitar tudo. Não temos que compreender tudo. Não temos que perdoar tudo nem gostar de tudo nem ficar feliz o tempo todo. Por outro lado, também não precisamos ser grosseiros, vulgares e cruéis em relação a quem não gostamos. Basta nos distanciarmos. Não é preciso responder às ofensas com deboche. Não é preciso alfinetar quem nos alfineta. Não é preciso dar a última palavra sempre. Não é preciso se vingar, pagar na mesma moeda. Basta se afastar, evitar ao máximo qualquer tipo de contato, se permitir dizer a si mesmo e aos outros: “Eu ainda não perdoei” sem se sentir culpado por isso.

Não somos obrigados também a aguentar discursos preconceituosos de boca fechada nem nos autodepreciar para nos sentirmos pessoas melhores. Muitas vezes a auto depreciação é uma modalidade de orgulho ou uma estratégia de não assumirmos riscos. O arrogante que pensa poder tudo, de certa forma, se assemelha àquele que acredita não poder nada.

Precisamos descobrir a beleza de cada sentimento e começar a perceber que um pouco de veneno é preciso. É preciso se aceitar em nossas limitações e potencialidades. Uma limitação, muitas vezes, nos confere algum tipo de encanto porque tudo o que somos se embola dentro de nós e os limites entre a nossa doçura e o nosso amargor não são tão evidentes. Basta pensarmos que muitas pessoas crescem depois de experiências dolorosas. Basta pensarmos que ninguém se descobre quando tudo dá certo. Basta pensarmos que pessoas que carregam um brilho meio triste no canto dos olhos têm muito a dizer e a nos fazer sentir.

Fonte: Silvia Marques